*** BUCHARA ***
*** É INSUSTENTAVEL A LEVEZA DO AMOR ***
Textos
                            DUNAS...

Sob meus pés, a ardente areia do deserto...
Dunas. Gigantescas caravanas que, ao sabor do vento, se deslocam lentamente em busca do horizonte...
Sob meus pés, mistérios. Coisas que não foram e não serão, nunca mais, reveladas...
Cada grão de areia, uma estória. Cada grão, um lugar diferente. Do mais alto dos píncaros, ao abismo do mais profundo oceano. Um instante de vida, ou de morte, sacado da pérgula de um oásis ou cavado do fundo de uma sepultura. Vestígio de uma mina de ouro ou de um pântano de areias movediças...
Amo estas dunas...
Esfinges transmutáveis pelo vento. Sepulcro de deuses, faraós, heróis, aventureiros...
Paraíso de mil-e-um universos. Caleidoscópio encantado, pleno do sobrenatural...
Dunas...
Nelas, a verdade. Da vida e da morte...
Onde, noites mais belas e com estrelas mais luminosas, festival de luzes que leva o poeta ao delírio? Onde, noites mais longas e mais frias, capazes de transformarem o incauto viajor em rígida e muda estátua?...
O Sol se impõe e custa a se pôr...
Cozinha os cérebros dos audaciosos que o desafiam, mas, antes disto, os deixa perplexos, confundindo-os e fascinando-os com as mais incríveis miragens. Aquele que morre no deserto, pasmem, morre sempre com um sorriso nos lábios...
Dunas...
Queimam meus pés; mas não perturbam a minha mente...
Sou filho destas areias. Nelas me transformo. Sei quando devo ser tartaruga: lento e cauteloso. Sei quando devo ser coiote: astuto e desconfiado; quando não audaz e traiçoeiro. Ou, ainda, como ser o pássaro que sabe em que direção voar para chegar à fonte cristalina. Camelo, eu acho que sempre fui. Senão não teria sobrevivido, até hoje, enfrentando as negras tempestades de areia e as longas jornadas em busca do oásis...
Já fui um sheik. Com mil escravos, tesouros, palácios, haréns, concubinas. Também, fui peregrino. Talvez em busca do Santo Graal. Como um cavaleiro andante, perambulei sem rumo, perdido, arrastado sempre na direção que me carregasse o vento. Encarnei um beduíno, apátrida, aventureiro, mercenário, vagando de deserto a deserto, sem nenhum fim princípio ou ideal...
Nômade obscuro e entristecido, rosto marcado por venturas e desventuras, quase vergado pelo peso dos anos, cabelos encanecidos pelo tempo, descubro, finalmente, o que sempre desconfiara...
A verdade da vida esconde-se em algum lugar debaixo destas mudas e serenas colinas de areia. Um dia, ressurgirá. Nós seremos felizes. Pela eternidade...
Sob meus pés a ardente areia do deserto? Não...
Sobre meu corpo. Sobre minha crença. Sobre meu espírito...
Eu sou, apenas, um grão de areia... 
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BUCHARA
Enviado por BUCHARA em 23/02/2007
Alterado em 10/06/2007
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